Há várias ocasiões que ocorrem na vida da gente que mudam tudo. Que mudam a gente, enfim, que fazem a gente parar pra pensar na vida, nessa zorra toda, que fazem a gente ter um momento afrescalhado e parar pra pensar na vida. Pode ser uma revelação divina, um acidente de carro, as opções são infinitas. Eu, por exemplo, tive dois. O primeiro gol que eu vi no Maracanã em cima do flamengo e, alguns meses atrás, uma mulher. Não necessariamente nessa ordem de importância. Ou não. Mulher é jeito de falar. Uma menina. Não menina no sentido pejorativo, mas uma menina no olhar, no jeito de falar e se vestir, menina nos modos e no cochilo despreocupado, menina no all star colorido e no casaco verde, no sorriso fácil e contagiante e no andar despojado e sempre altivo, menina na timidez do momento após o beijo e no abraço forte e terno durante o mesmo beijo, menina na inocência com que confia nas pessoas e nas (sem sempre) boas intenções de todos ao redor, menina na fé na vida e na crença de que tudo vai dar certo pras pessoas boas. Menina na cara enfezada de criança birrenta que não quer sorrir pra foto. Menina quando perdoa as cretinices alheias e as calhordices que lhe aprontam, e ainda mais menina quando retrubui essas atitudes com generosidade e piedade.
E quando acontece uma coisa dessas, você para e pensa nas prioridades da sua vida. Se vale a pena abrir mão daquele sorriso encantador pra ficar trabalhando até as onze da noite, se vale a pensa continuar bancando o durão perigando marejar aqueles olhinhos pidões e inocentes, e chega a abalar sua ceretza de que ninguém presta e que o jeito é juntar-se a eles. Quando acontece isso, você para pra pensar num monte de gente que não merecia, mas que você deu um valor danado, no monte de coisas que hoje você nem lembra mais, mas que na época você lutou contra o mundo pra conquistar. Por que no final, quando o trabalho passar, as pessoas erradas passarem e quando o mundo que você havia construído começar a ruir, o que fica é o sorriso largo e os olhos apaixonados. Mesmo que fique só na memória. Afinal de contas, é melhor ter amado e perdido do que nunca ter amado. Por que no final, camarada, é isso que fica. A lembrança da menina. Ou do gol no Fla-Flu. E, aconteça o que acontecer, é isso que vai te fazer manter o ânimo e a alegria até o final.
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Não vivem
A resposta para a questão título do post anterior é a seguinte: eles não vivem. Simples assim. Então, se você é um pato, ou um ganso, sei lá, trate desde já de esquecer aquela peixinha linda que te fisgou. Por que ela não vai - acredite, amigo - jamais, nunquinha, abandonar aquele oceano quentinho pra tentar ganhar os ares com você. Ela vai sonhar com vocês voando juntos, vai pensar que até que você é um pássaro legal, que cuidaria bem dela, e pode até cogitar em dar uns pulos mais altos pra fora d´água com você, mas vai ser só isso.
No fim das contas, vai ficar tudo como está. Por que ela não vai querer arriscar uma situação completamente nova e arriscada, mesmo sabendo que aquele pato feio e despenteado pode fazê-la muito mais feliz no céu do que ela poderia ser na água. Mas ela não vai arriscar, camarada, nem tente. Engula sua paixão e arrume alguma gaivota, quem sabe até uma adorinha, sozinha como você. Por que no final das contas, ela vai preferir o conforto do grande e escuro oceano ao risco de ser feliz nas alturas, mas perigando cair de lá a qualquer hora. No mar pelo menos não tem pra onde cair. E o que vai acontecer - é triste, eu sei - é que algum robalo bobalhão ou namorado garboso e engomadinho vai pesar contra você na escolha dela. E ela vai ficar lá, sonhando com o céu estrelado, e você aí, sonhando em cair no mar pra buscar sua peixinha amada. Mas ela não vai querer voar, nem você vai conseguir tirá-la de lá. A natureza não falha. Nunca, mais nunca, tente luta contra ela. E como ela mesma disse certza evz, "certas coisas não deveriam mesmo acontecer"...
No fim das contas, vai ficar tudo como está. Por que ela não vai querer arriscar uma situação completamente nova e arriscada, mesmo sabendo que aquele pato feio e despenteado pode fazê-la muito mais feliz no céu do que ela poderia ser na água. Mas ela não vai arriscar, camarada, nem tente. Engula sua paixão e arrume alguma gaivota, quem sabe até uma adorinha, sozinha como você. Por que no final das contas, ela vai preferir o conforto do grande e escuro oceano ao risco de ser feliz nas alturas, mas perigando cair de lá a qualquer hora. No mar pelo menos não tem pra onde cair. E o que vai acontecer - é triste, eu sei - é que algum robalo bobalhão ou namorado garboso e engomadinho vai pesar contra você na escolha dela. E ela vai ficar lá, sonhando com o céu estrelado, e você aí, sonhando em cair no mar pra buscar sua peixinha amada. Mas ela não vai querer voar, nem você vai conseguir tirá-la de lá. A natureza não falha. Nunca, mais nunca, tente luta contra ela. E como ela mesma disse certza evz, "certas coisas não deveriam mesmo acontecer"...
sexta-feira, 13 de outubro de 2006
Lira Romantiquinha
Por que me trancas
o rosto e o riso
e assim me arrancas
do paraíso?
Por que não queres,
deixando o alarme
(ai, Deus: mulheres!),
acarinhar-me?
Por que cultivas
as sem-perfume
e agressivas
flores do ciúme?
Acaso ignoras
que et amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?
Visto que em suma
é todo teu,
de mais nenhuma,
o peito meu?
Anjo sem fé
nas minhas juras,
porque é que é
que me angusturas?
Minh´alma chove
frio, tristinho.
Não te comove
este versinho?
Carlos Drummond de Andrade
The complete Shears Files
É isso mesmo que você leu ali em cima. O blog do Shears. "Mas ele não tem outro blogue?". Tenho, mas lá é pra ser bonzinho e comportado, e escrever coisas legais. Aqui é o blogue politicamente incorreto, machista, com humor negro e cheio de palavrão. Como diria o Mestre Didi Mocó: "Qué qué, num qué tem quem qué."
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